Mas… e o literário?

Ester Gonçalves de Oliveira
2 min readDec 22, 2020

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Calma, calma, calma, não precisa se desesperar. Eu sei que muita gente perde as estribeiras quando vê algo associado a literatura afinal, memórias ruins do colégio todos temos. Mas aqui eu vou tentar explicar direitinho o que é isso que chamamos de literário.

Primeiramente, o literário realmente está associado a literatura? A resposta é certamente sim, o literário é parte essencial e constitutiva do campo da literatura. Mas… por que?

Vamos lá, eis a questão, por que o literário é tão importante? ou melhor ainda, o que é o literário? De acordo com Maingueneau, de maneira simplificada, é aquele que mantêm relações entre a materialidade, a língua, o textual e tudo o mais. Nas palavras do estudioso:

“… advoga[ndo] a favor da integração conceitual de autor, público e suporte material do texto; da indivisibilidade entre gênero textual e mensagem, entre vida do autor e estatuto do escritor e entre subjetividade criadora e atividade de escrita;” (SOARES, 2020, p. 89)

Assim, entendemos que o conceito de literário não é algo sólido e imutável, muito pelo contrário, é um objeto que muda de acordo com o seu contexto: cada novo cenário possui um literário próprio.

Para exemplificar ainda mais, citamos Luciana Salgado, que diz que “o texto literário é a textualização de um discurso constituinte”, em que este último pode ser caracterizado como:

“… zonas de palavras entre outras e palavras que se pretendem marquise de todas as outras. Sendo discursos-limites, localizados num limite e tratando do limite, devem gerar textualmente os paradoxos que seu estatuto implica.” (MARI, 1999, p. 46)

Por fim, devemos falar da interlíngua, também associada ao literário: a interlíngua é a junção de varias línguas numa só. Entendeu? Imaginei que não, vou explicar melhor.

Existe sempre uma certa névoa que circunda a língua, isto é, em todo registro existem marcas constituintes de outros diversos registros. Eu tenho algo X que dentro deste algo X consigo ver a marca de milhares de Ys. Isso é a interlíngua: a não existência de uma só língua que se entrelaçam.

Assim, entendemos o que é o discurso literário, o próprio literário e a interlíngua.

SALGADO, Luciana Salazar. A interlíngua de “Atrás da Catedral de Ruão”. In: crítica e companhia, ANO IV, 2010. Disponível em: <https://lucianasalazarsalgado.files.wordpress.com/2020/11/leitores-autores-leituras-cadernos-da-uff.pdf>. Acesso em: 22.dez.2020.

SOARES, Ivanete Bernardino. O (in)específico na análise do discurso literário. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, São Paulo , v. 15, n. 3, p. 86–106, set. 2020 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-45732020000300086&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 22 dez. 2020.

MARI, H.et al. L’analyse des discours constituants. in: Fundamentos e dimensões da análise do discurso. Belo Horizonte, 1999, pp.45–59.

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